Edgar Malato, CEO da Ewen Energy, defende no Público que a eficiência energética deve ser encarada como o motor invisível da transição energética, começando nas decisões quotidianas de pessoas e empresas.
A eficiência energética começa nas escolhas simples do dia a dia, das pessoas e das empresas. Pequenas ações, quando repetidas por muitos, têm o poder de gerar impactos ambientais significativos.
Turbinas eólicas estrategicamente posicionadas para captar a força do vento, telhados revestidos de painéis solares, barragens que transformam a pujança da água em eletricidade. É com estas imagens, da união da tecnologia com a natureza, que se constrói o imaginário da transição energética. Elas são a face visível da mudança, símbolos de um futuro mais limpo e de uma transformação que sabemos ser inevitável.
Mas a verdade é que estes cenários contam apenas uma parte da história. É preciso olhar além das energias renováveis e reconhecer que a eficiência energética, apesar de menos fotogénica, é igualmente decisiva. Falo de reduzir desperdícios, otimizar operações e garantir que cada unidade de energia é bem aproveitada.
Portugal enfrenta um desafio. Segundo os dados mais recentes, é o 12.º país da União Europeia com maior dependência energética, superando em mais de oito pontos percentuais a média da UE-27. Esta fragilidade tem custos elevados, razão pela qual o Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) estabelece objetivos claros: reduzir em 35% o consumo de energia primária até ao final da década e diminuir a dependência energética para 65%. Estes compromissos integram-se na ambição europeia de aumentar a eficiência energética em 32,5%.
É isso que está em causa quando falamos de eficiência energética – fazer mais com menos, sem abdicar de conforto, segurança ou qualidade.
Perante estes números, é fundamental perceber que a eficiência energética começa nas escolhas simples do dia a dia, das pessoas e das empresas. Pequenas ações, quando repetidas por muitos, têm o poder de gerar impactos ambientais significativos para o país, mas também para as carteiras.
Veja-se o frigorífico lá de casa, que hoje consome muito menos energia do que há uma década e fá-lo sem comprometer o desempenho. Conserva melhor os alimentos e é mais silencioso. É precisamente isso que está em causa quando falamos de eficiência energética – fazer mais com menos, sem abdicar de conforto, segurança ou qualidade. Essa eficiência esconde-se nas etiquetas de classificação, de A a F, que nos orientam na escolha de equipamentos mais sustentáveis e económicos.
O mesmo princípio aplica-se, ainda com maior impacto, ao setor industrial. Se num eletrodoméstico as poupanças são importantes, numa linha de produção, onde os processos são mais complexos e os consumos intensos, os ganhos podem ser exponenciais. A eficiência energética, nestes contextos, pode assumir a forma de medidas simples e de rápida implementação, como a modernização da iluminação, ou envolver investimentos mais estruturais e transformadores, como a substituição de caldeiras a gás por sistemas mais eficientes.
No fundo, a eficiência energética começa por ser uma cultura que deve ser adotada pelas pessoas, no seu dia a dia, mas ganha verdadeira dimensão e impacto quando integrada na mentalidade das empresas. Para estas, é fundamental adotar uma abordagem transversal que combine engenharia com uma visão financeira rigorosa. Uma base técnica sólida, aliada à capacidade de calcular o retorno do investimento (ROI), é essencial para que a eficiência deixe de ser encarada apenas como um custo e passe a ser vista como uma alavanca estratégica. Assim, as empresas conseguem libertar recursos para investir onde realmente importa, garantindo maior competitividade e sustentabilidade.
