Para Edgar Malato, diretor-geral da Ewen Energy, a eficiência energética é mais do que uma exigência legal — é uma alavanca estratégica para a competitividade. “Desde a integração na Helexia, a empresa reforçou a sua oferta com soluções integradas, apostando na eletrificação industrial e na monitorização em tempo real como motores da transição energética” – adiantou Edgar Malato em entrevista à “Vida Económica”.
Vida Económica – Desde que se tornou parte da Helexia em 2022, como avalia a evolução da estratégia de crescimento e expansão internacional da Ewen Energy?
Edgar Malato – A integração na Helexia tem impulsionado o nosso crescimento e fortalecido a nossa oferta. A Ewen aporta um forte know-how técnico em eficiência energética e gestão de energia, enquanto a Helexia é um player internacional de referência na produção descentralizada de energia limpa e mobilidade elétrica. Esta complementaridade tem-nos permitido desenvolver soluções mais integradas e responder melhor às necessidades do mercado. Tanto é que temos assistido a um cruzamento de oportunidades muito interessante: clientes que já trabalhavam com a Ewen começaram a desenvolver projetos com a Helexia, e vice-versa. A presença da Helexia em vários países europeus e no Brasil abriu-nos portas para novos mercados estratégicos, onde temos exportado conhecimento e serviços. O know-how técnico desenvolvido em Portugal, aliado a um custo competitivo, tem sido uma vantagem clara nestas geografias.
VE – Enquanto novo diretor geral, em funções desde fevereiro de 2025, que mudanças estratégicas ou operacionais já implementou para reforçar a atuação na eficiência energética?
EM – A primeira prioridade foi ouvir as equipas, mapear os processos e identificar pontos críticos de melhoria. Com base nesse diagnóstico, implementámos uma reestruturação que reduziu de nove para quatro as áreas de negócio. Esta simplificação permitiu-nos ganhar foco, acelerar a tomada de decisão e responder com mais eficiência às exigências do mercado. Um exemplo concreto dessa integração foi a fusão da área de Power BI e dashboards com a área de gestão de energia. Esta junção fez todo o sentido. Agora reunimos, num só núcleo, a capacidade de recolher, tratar e analisar dados energéticos, e de os traduzir em dashboards ajustados às necessidades específicas dos clientes. Reforçámos também a articulação com a Helexia, criando sinergias que nos permitem apresentar soluções mais completas e com maior impacto na performance energética dos nossos clientes.
VE – Quais são os principais desafios que a Ewen Energy enfrenta no contexto atual da descarbonização industrial em Portugal e na União Europeia?
EM – Nem todos os países são ricos em recursos energéticos, mas todos podem e devem ser ricos em eficiência energética. Esse é precisamente o nosso maior desafio: ajudar as empresas a reconhecerem o valor real da eficiência, não apenas como uma obrigação legal, mas como uma alavanca estratégica. Mais do que projetos pontuais, o que defendemos é o desenvolvimento de uma cultura de eficiência energética. Reforço a palavra cultura porque é um processo contínuo, que exige planeamento, execução e visão a longo prazo, mas é também esse caminho que permite produzir mais com menos, reduzir consumos e emissões e aumentar a competitividade das empresas.
Eletrificação da indústria
VE – Como se posiciona a Ewen Energy face à tendência crescente da eletrificação das indústrias como ferramenta essencial para a descarbonização?
EM – A eletrificação da indústria é, sem dúvida, uma das alavancas mais importantes para a descarbonização e, por isso, um eixo estratégico claro para a Ewen. Portugal tem vindo a eletrificar parte dos seus processos industriais, mas ainda há muito a fazer. A eletrificação só será eficaz se integrada com eficiência energética, digitalização, renováveis e armazenamento. Este é também o apelo que sai reforçado da COP28, com a meta global de duplicar a taxa de melhoria da eficiência energética até 2030, um objetivo ambicioso que exige mudanças transformadoras, e não apenas incrementais. Na Ewen, fazemos precisamente isso – apoiamos as empresas com soluções integradas.
VE – De que forma a monitorização em tempo real – como a sala GAIAe instalada no escritório do Porto – tem contribuído para otimizar os consumos energéticos dos clientes?
EM – A gestão de energia, quando feita de forma inteligente e em tempo real, torna-se uma ferramenta poderosa para identificar desperdícios, reduzir consumos e otimizar recursos. Foi com esse propósito que criámos a GAIAe. Através da monitorização contínua de edifícios e processos produtivos, conseguimos detetar desvios de consumo, propor medidas de melhoria e atuar proativamente. A sala GAIAe permite-nos transformar dados em decisões, decisões em ações e ações em resultados — reforçando a competitividade dos nossos clientes e acelerando a sua transição para um modelo energético mais sustentável.
VE – Há novos projetos no pipeline?
EM – Sim, temos um pipeline robusto, com novos clientes e projetos. Destaco aqui um projeto-piloto com novos materiais de isolamento térmico, direcionado ao setor do vinho. Trata-se de uma tecnologia 100% portuguesa, concebida, desenvolvida e produzida em Portugal com matéria-prima nacional, que foi criada para responder aos desafios específicos desta indústria, com forte potencial para reduzir consumos energéticos. Os primeiros resultados têm sido muito promissores.
VE – Como concilia a Ewen Energy a sua abordagem técnica rigorosa (valores: proximidade, foco, transparência) com os desafios de escalar soluções eficientes para um mercado maior e mais internacionalizado?
EM – Na Ewen, os nossos valores são pilares estratégicos para um crescimento sustentável. A internacionalização surge como evolução natural do nosso propósito: contribuir para uma economia de baixo carbono com soluções técnicas que geram valor e poupança. Mantemos uma cultura forte e coesa, essencial também na atração de talento alinhado com esta missão.
